O avanço tecnológico dos processos construtivos tem ganhado espaço no setor da construção mas ainda enfrenta barreiras para o avanço da industrialização dos processos. Essa é a realidade do setor, constatada na palestra sobre “Novos modelos de moradias – quebra de paradigmas”, realizada no início de abril, durante o 98º Encontro Nacional da Indústria da Construção (ENIC), promovido pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) na Feicon, com o apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e do Serviço Social da Indústria (Sesi).
“Os sistemas inovadores já são uma realidade e estão deixando de ser exclusividade de um nicho específico para conquistar espaço na construção civil”, afirmou o Vice-presidente de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Dionyzio Klavdianos. Para o Presidente do Conselho Consultivo da CBIC, José Carlos Martins, o setor enfrenta, no entanto, uma série de desafios, como o aumento dos preços dos materiais, que escalaram durante a pandemia e permanecem elevados, juntamente com as taxas de juros, além da escassez de mão de obra qualificada e a crescente exigência legislativa em questões de sustentabilidade e responsabilidade social. “É inevitável a mudança de métodos construtivos. Ou a gente se adequa aos novos tempos, ou seremos tragados”, disse ele, pontuando que o avanço da industrialização depende de ganhos de produtividade, qualidade e velocidade.
Na opinião do Diretor de Operações da Tecverde, Felipe Basso, um dos principais desafios para a inserção de novos métodos produtivos no mercado é a receptividade da população. “Apesar de proporcionar uma obra mais limpa e rápida, nosso maior desafio é o aculturamento dos usuários. O entendimento e a receptividade da população com materiais diferentes do convencional é a principal barreira para o avanço mais rápido da adoção de novos sistemas construtivos”, acredita Basso, usando como exemplo a tecnologia “wood frame” (uso de perfis de madeira combinados com placas estruturais para formar painéis de alta resistência), utilizada na cidade de São Sebastião (SP), após as fortes chuvas que resultaram em 700 famílias desabrigadas.
A pesquisadora e Gerente técnica do Laboratório de Tecnologia e Desempenho de Sistemas Construtivos do IPT, Luciana Oliveira, destacou que novos sistemas construtivos podem reduzir os desafios do setor como no pós-obra. “Os sistemas industrializados geralmente são mais bem projetados e executados, o que diminui os problemas pós-obra. Com informações, treinamento e orientação adequados, podemos progredir. No entanto, é preciso enfrentar as barreiras culturais e promover a conscientização da população sobre a importância e os benefícios dessas mudanças”, prevê.