Pelo terceiro ano consecutivo, a caderneta de poupança registrou, em 2023, saque líquido. Tal movimento não era registrado há mais de 20 anos, o que levou economistas a alertarem sobre a necessidade de criação de novas fontes de financiamento para o setor imobiliário.
Segundo divulgou o Banco Central, em 2023 as retiradas superaram os depósitos em R$ 87,8 bilhões. Em 2021 foram registrados saques líquidos de R$ 35,5 bilhões e, no ano seguinte, R$ 103,2 bilhões. De acordo com o BC, no ano passado os resgates se somaram ao rendimento de R$ 73,08 bilhões da poupança, assim o saldo total da poupança caiu para R$ 983 bilhões, diante dos R$ 998,9 bilhões de 2022. O último episódio em que houve três anos seguidos de saques foi entre 1999 e 2001.
“É uma situação que preocupa. A direção da Caixa, que lidera o financiamento ao crédito imobiliário, alertou que a sequência de resgates ameaça o ritmo de novas concessões. Sessenta e cinco por cento do saldo da poupança vai obrigatoriamente para esse tipo de financiamento. É possível que a renegociação de dívidas do programa Desenrola contribua para estancar a sangria. O ciclo de afrouxamento monetário, iniciado em agosto do ano passado, também tende a arrefecer a retirada de recursos. Mas a queda na taxa Selic, atualmente em 11,75% ao ano, segue um processo gradualista. Pelas normas estabelecidas em 2021, somente com juros abaixo de 8,5% – o que não é esperado para este ano – a remuneração da caderneta alcançará um patamar mais atraente. Mexer novamente nas regras da caderneta de poupança seria insensatez. Mais razoável será apostar em soluções mais estruturais, mesmo que demoradas, como o reforço a medidas de redução do endividamento e o aumento da renda acompanhando a queda do desemprego. A partir daí se pode começar a pensar no estímulo à cultura da poupança”, publicou o jornal O Estado de São Paulo, em um artigo sobre o assunto.