A alta da Selic está fazendo com que o mercado refaça as contas sobre o que esperar das taxas do financiamento habitacional. Especialistas acreditam que o custo total do crédito para aquisição de imóveis pode ultrapassar a barreira dos 10%, ainda que o cenário base seja o de juros de um só dígito ao fim deste ano.
“Se a gente tivesse conversado três semanas atrás seria um outro cenário [para o crédito imobiliário]. Mas com alguns analistas prevendo Selic a 9% isso traz um complicador a mais. Em um cenário de Selic entre 8% a 9% podemos voltar a conviver com taxas de dois dígitos no crédito imobiliário. O cenário base ainda não é este, ainda que o risco comece a se materializar. Se o país conseguir acalmar o ambiente político e resgatar a confiança a taxa básica pode se manter abaixo desse nível”, disse, ao Jornal Valor Econômico, o economista e Coordenador do índice de preços de imóveis anunciados FipeZap, Eduardo Zylberstajn.
O mercado acredita, porém, que os bancos devem segurar os aumentos expressivos nas linhas de crédito imobiliário por conta da competição no setor. De acordo com o CEO da plataforma de crédito imobiliário CrediHome, Bruno Gama, não há um cenário para uma taxa de crédito imobiliário de dois dígitos. “A não ser um cenário mais extremo, com Selic passando de 9%, em meio a um ambiente de desequilíbrio fiscal. Vai haver uma subida maior de taxas, sem dúvida, mas não vai haver uma ‘commoditização’ de taxa final, como aconteceu nos últimos anos em que os bancos operaram em níveis muito similares. Os bancos podem ter taxas diferentes e [um efeito da Selic mais elevada] é que pode começar a haver um descolamento entre os custos de financiamentos dos principais bancos. Tem banco com mais apetite para ganhar espaço no mercado de crédito imobiliário e isso pode significar operar com ‘spreads’ melhores. Vai ficar mais claro que alguns bancos vão operar de maneira mais agressiva e deixar as taxas menores, a partir de uma margem menor, e outros que vão acompanhar a subida das taxas”, disse ele, ao Valor Econômico.
A presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Cristiane Portela, pontua que há outros componentes, além da Selic, que podem pressionar o custo do crédito. “Além da Selic, tem um outro fator que pesa para o financiamento imobiliário, que é a curva de juros futuros, especialmente de cinco e dez anos para a frente. Essa curva também teve uma majoração, com as curvas de cinco anos em quase 9% e a de dez anos, acima de 9%. Não necessariamente os custos do financiamento imobiliário vão subir na mesma magnitude dos aumentos das taxas Selic e das curvas futuras”, afirmou a executiva ao Valor.
Finalizando a discussão deste tema, Zylberstajn lembra que o momento atual é bem diferente do último ciclo de alta de preços. “No ‘boom’ anterior, entre 2008 e 2009, chegamos a ver preços subindo, no acumulado do ano, mais de 20% em São Paulo e quase 50% no Rio de Janeiro. Não acredito que a gente vá ver esse ritmo, mas pode haver cidades com aumento de dois dígitos. Um aumento na casa de 10% [em São Paulo] não seria surpreendente”, conclui ele à reportagem do jornal Valor Econômico.
Publicado em 01/09/2021