A Caixa anunciou novidades em suas linhas de crédito para financiamento da casa própria. Desde o primeiro dia de novembro, o banco passa a financiar imóveis de menor valor e a reforçar sua análise de risco na concessão do crédito. Os recursos da poupança que fazem parte do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos (SBPE) passa a financiar imóveis de até R$ 1,5 milhão, com juros de até 12% ao ano. Já na linha que utiliza a tabela Price, a cota máxima de financiamento caiu de 70% para 50% do total do imóvel.
Na modalidade SAC — em que as parcelas são maiores no início e menores no final — o financiamento vai passar de 80% para 70% do valor do imóvel. De acordo com o jornal O Globo, “a alteração nas cotas de financiamento e a limitação no valor do imóvel a R$ 1,5 milhão não se aplicam às unidades habitacionais vinculadas a empreendimentos financiados pelo banco, mantendo-se nesse caso as condições vigentes atualmente”.
A Caixa decidiu “apertar” o financiamento da casa própria para a classe média ao constatar que faltando ainda três meses para o fim do ano o banco praticamente já alcançou sua meta de contratações de R$ 70 bilhões para 2024. Segundo a instituição, até setembro a Caixa emprestou R$ 63,5 bilhões, o equivalente a 90% do montante planejado.
Segundo reportagem do jornal Folha de São Paulo, a Caixa está administrando os contratos para não suspender as operações e há vários relatos de contratos não liberados em inúmeras agências do banco na cidade de São Paulo. De acordo com a Caixa, a escassez de recursos acontece principalmente por conta do melhor volume de depósitos da caderneta de poupança, historicamente a principal fonte de financiamento para as linhas de crédito habitacional voltadas à classe média. A alternativa de utilizar recursos próprios esbarra na alta dos juros, o que torna a operação inviável. “Estamos administrando”, limitou-se a dizer a Vice-presidente de Habitação da Caixa, Inês Magalhães.
A executiva disse que a instituição deve finalizar 2024 com um volume de contratações em torno de R$ 72 bilhões, no mesmo patamar do ano passado. Líder absoluta do mercado, com quase 70% de sua totalidade, a Caixa vem perdendo espaço paulatinamente no atendimento à classe média. De acordo com a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança, entre janeiro e agosto deste ano, o banco estatal registrou o menor percentual de crescimento nas operações, de apenas 0,09%, na comparação com o mesmo período do ano passado. O Bradesco contabilizou uma alta de 0,63% e o Banco do Brasil, de 0,34%, no mesmo período.
Inês diz que é preciso buscar fontes alternativas de funding, e sugere que se reduza temporariamente a parcela do compulsório (fração dos depósitos da poupança que os bancos obrigatoriamente precisam depositar no Banco Central), medida esta que tem resistência do BC. A executiva lembra que o Conselho Monetário Nacional alterou as regras das Letras de Crédito Imobiliário (LCI), tornando o papel mais atrativo, porém, em sua opinião, a mudança não é suficiente. “Precisamos levantar a discussão sobre a necessidade de novos fundings para financiamento da casa própria”, decreta ela.
Em nota, o banco garante que busca alternativas para este cenário. “Informamos que a Caixa estuda constantemente medidas que visam ampliar o atendimento da demanda excedente de financiamentos habitacionais, inclusive participando de discussões junto ao mercado e Governo, com o objetivo de buscar novas soluções que permitam expansão do crédito imobiliário no país, não somente pela Caixa, mas também pelos demais agentes do mercado”, diz.
Presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Renato Correia, reclamou que a Caixa está reduzindo o ritmo dos financiamentos e elevando o custo do crédito imobiliário. “Sendo um banco público, a gente crê que a Caixa não vai paralisar as contratações, mas o financiamento ficou mais caro”, alertou.