Segundo divulgou o jornal O Estado de São Paulo, o Governo Federal quer utilizar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) como mecanismo para destravar a venda de carteiras de crédito imobiliário no mercado secundário, a chamada securitização, dentro de um conjunto de políticas para ampliar o financiamento à habitação.
De acordo com o jornal, “uma das ideias em discussão é encontrar formas para que a Caixa consiga atender a clientes de classe média alta que desejam financiar imóveis mais caros utilizando os recursos que têm depositados no FGTS para dar entrada. A avaliação é que, por ter um volume financeiro considerável depositado nas cadernetas de poupança, a Caixa conseguiria atender a esse público com um juro que permita o uso do FGTS, mas que seja atrativo o suficiente para os potenciais investidores, mesmo em um cenário de Selic a dois dígitos”.
O Governo acredita que é possível ampliar o orçamento do FGTS destinado à habitação, ampliando a oferta de crédito em linhas como a pró-cotista, onde há limite de renda mensal dos tomadores e o valor do imóvel a ser financiado. “Esse movimento liberaria espaço nas linhas financiadas pela poupança, espaço este que poderia ser utilizado para atender ao público de maior renda”, esclarece o jornal.
“O chamado Sistema Financeiro da Habitação (SFH) determina que nas linhas financiadas pela poupança, o cliente pode utilizar o recurso que tem no FGTS para dar entrada no imóvel, o que reduz o valor que tem de financiar. No entanto, há algumas regras: o valor financiado não pode ultrapassar a casa de R$ 1,5 milhão, e os juros do financiamento ficam limitados a 12% ao ano. É neste segundo quesito que a Caixa se vê em vantagem. O vice-presidente de Finanças e Controladoria da Caixa, Marcos Brasiliano Rosa, afirma que por ter um volume mais representativo de depósitos em poupança que os rivais, o banco público conseguiria atender ao público de maior renda mantendo os juros dentro dos limites do SFH. Financiamentos com juros de 12% ou mesmo um pouco abaixo disso seriam mais atrativos para o mercado secundário que o governo federal quer destravar mesmo com a Selic a 11%. Hoje, a Caixa cobra algo a partir de 9% ao ano nas linhas que usam recursos da poupança, e pretende manter essa taxa, ao menos para o perfil de cliente que o produto atende hoje, de classe média”, relata o Estadão.
O artigo pontua, porém, que há barreira orçamentária. “Em um cenário em que a poupança cresce pouco ou mesmo cai, a Caixa tem privilegiado fazer o máximo possível de financiamentos com o orçamento disponível. Hoje, em vez de financiar R$ 1,5 milhão para um cliente só, é bem provável que o banco financie três que queiram comprar imóveis de R$ 500 mil cada um”, explica. “Um aumento do orçamento do FGTS destinado à habitação ajudaria a estender um movimento que a Caixa já tem feito. Com o aperto na poupança nos últimos dois anos, o banco tem enquadrado o máximo possível de clientes nas linhas que utilizam os recursos do fundo. Neste ano, o orçamento do FGTS para habitação é de cerca de R$ 106 bilhões”, conclui.