Quais são os rumos do financiamento imobiliário no Brasil, diante da alta de juros e da necessidade de se criar mecanismos de funding para o crédito imobiliário? É a pergunta que a indústria da construção civil se fez durante a realização do 100° Encontro Internacional da Indústria da Construção (ENIC), promovido pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) no início de abril, em São Paulo, reunindo os principais players do setor.
“Em 2002, falávamos em um mercado financiado com R$ 2,5 bilhões. Hoje, somamos mais de R$ 300 bilhões em recursos do SBPE, FGTS e outros instrumentos. É um outro mundo, que só foi possível com o amadurecimento do mercado e a melhoria da legislação”, destacou o Presidente da CBIC, Renato Correia, ao falar sobre a evolução história do crédito no Brasil e a necessidade de, segundo suas palavras, “manter o alto-forno do setor ligado”.
Correia alertou, entretanto, sobre a desaceleração nos segmentos voltados para a classe média, uma das molas propulsoras do mercado de crédito imobiliário. “Estamos vendo um arrefecimento no funding. Precisamos encontrar uma avenida paralela ao FGTS, com robustez independente. O fundo do pré-sal, por exemplo, abre uma nova perspectiva”, defendeu, referindo-se à recém-criada faixa 4 do programa Minha Casa, Minha Vida, destinado a financiar moradia para a classe média.
Conselheiro da CBIC e Economista-chefe do Secovi-SP, Celso Petrucci falou sobre o papel central do FGTS e da poupança no desenvolvimento urbano do país. “Em 1970, 56% da população vivia em áreas urbanas. Em 2023, chegamos a 87%. Isso só foi possível graças ao crédito via FGTS e poupança. Mas hoje, com juros altos e perda de atratividade da poupança, o cenário é preocupante”, alertou ele.
Diretor de Assuntos Econômicos da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAINC), Renato Lomonaco lamentou que entraves estão afetando a viabilidade de produção do programa Minha Casa, Minha Vida em pequenas cidades do país. “Quase 80% das cidades estão perto do teto permitido pelo programa, tornando a produção inviável. Precisamos ajustar os limites e rever a atualização da renda para as faixas 1, 2 e 3”, explicou o executivo. Segundo ele, é preciso que o Governo promova mudanças urgentes no FGTS. “É fundamental permitir que famílias das faixas 1 e 2 possam comprar imóveis classificados na faixa 3, com taxas mais acessíveis. Hoje, essa barreira gera uma exclusão injusta”, defendeu, lamentando que o saque-aniversário do FGTS está reduzindo “drasticamente” a capacidade de entrada no financiamento imobiliário.
Filipe Pontual, Diretor executivo da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (ABECIP), foi veemente na defesa da necessidade de se estabelecer novas alternativas de funding para o crédito imobiliário. “Mesmo com taxas elevadas, o início de 2024 surpreendeu pela força da demanda. Mas há uma queda preocupante no financiamento à produção, que caiu 44% no início do ano. Os bancos estão priorizando o crédito para aquisição, deixando a produção sem funding adequado”, explicou ele. “A cobrança de IPTU e dívidas condominiais dos financiadores, mesmo sem posse do imóvel, pode inviabilizar operações. Isso encarece o crédito e restringe o acesso da população”, acrescentou.