Os juros do crédito imobiliário começam a subir no Brasil, e um sinal disso foi dado primeiramente pelo Santander, na primeira quinzena de julho, quando passou a taxa mínima para financiamento da casa própria de 6,99% para 7,99%. A expectativa do mercado é que os outros bancos também promovam um pequeno ajuste para cima nos preços do financiamento habitacional.
Segundo os especialistas, os bancos já estavam praticando uma espécie de elevação branca, sem mexer, no entanto, nas taxas iniciais. Os critérios para a concessão de crédito imobiliário têm sido mais rigorosos do que o de costume, e aos clientes com “score” mais baixo são oferecidas taxas mais elevadas. No Itaú Unibanco, por exemplo, a taxa chega a 7,3% para clientes com perfil mais arriscado, apurou, em uma reportagem sobre o assunto, o jornal Valor Econômico.
O Santander justificou o reajuste da taxa de juros: “o atual ciclo de elevação da Selic afeta a curva de juros no longo prazo, influenciando as taxas do financiamento imobiliário”, limitou-se a informar o banco. Mas especialistas dizem que o banco foi o primeiro a praticar o reajuste porque é, entre os bancos privados, o que tem menos poupança comparativamente a Bradesco e Itaú Unibanco. Segundo eles, com menos funding para o crédito habitacional, aliado a um forte crescimento da demanda, ao banco não restou outra atitude senão elevar a taxa.
Para o CEO da plataforma de contratação de crédito imobiliário CrediHome, Bruno Gama, “entre o fim do ano e começo de 2022 os bancos devem passar a rodar com taxa entre 7% e 8% ao ano. Se a Selic passar dos 7%, as taxas praticadas pelos bancos podem subir acima dos 8%”. Assim como Gama, o CEO do serviço de comparação de crédito imobiliário Melhortaxa, Paulo Chebat, disse ao jornal Valor Econômico que avalia a possibilidade de ocorrer um aumento maior, para a faixa entre 8% e 8,5%, mesmo com uma taxa básica de 6,5% ao fim de 2021. “Os bancos têm mantido um ‘spread’ de cerca de dois pontos percentuais em relação à Selic”, disse. Caso a taxa de política monetária supere os 7%, Chebat projeta também aperto maior nos custos do crédito imobiliário por parte dos bancos para o intervalo de 8,5% a 9%.
Já a Presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Cristiane Portella, disse que tudo leva a crer que os ajustes das taxas do crédito imobiliário para cima serão necessários. “Ainda assim, tendem a permanecer em patamares baixos historicamente, quase a metade do que era praticado em 2015, por exemplo”, garante ela. As curvas de juros de 10 anos estão girando em torno de 9% e, para que tenhamos taxas como as do início do ano, temos de voltar para patamares de 5% a 5,5% nas curvas de 10 anos, como vimos um ano e meio atrás” completou a executiva, pontuando que os preços atuais, mesmo com as altas recentes, continuam abaixo do patamar visto em 2014, se for descontada a inflação no período.
Publicado em 02/08/2021