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Selic a 15% pressiona a saída de recursos, o que significará menos dinheiro para a produção de imóveis para a classe média

Presidente da CBIC afirma que uma taxa básica de juros a 15% prejudica o sonho da casa própria para a classe média

“O cenário para 2025 é desafiador para o país todo, e em especial para a construção civil, no que tange ao impacto da taxa básica de juros, a Selic. A expectativa de chegarmos a uma taxa básica de 15% ao ano tem um impacto muito forte no setor, porque usa muito dinheiro por muito tempo. Isso acaba onerando muito a produção de imóveis, aumentando o custo de produção, mas principalmente prejudicando o funding para a classe média quando se trata do setor imobiliário. Quando a Selic sobe, há uma retirada de recursos da caderneta de poupança. Nos últimos três anos, houve uma drenagem de R$ 200 bilhões de recursos da caderneta de poupança, e, com a taxa Selic a 10,5%, havia sinais de recuperação”.

A avaliação é do Presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Renato Correia, ao conceder uma longa entrevista para o jornal Correio Braziliense sobre as perspectivas da indústria da construção civil para este ano. Segundo Correia, um patamar de 15% da Selic vai pressionar a saída de recursos, o que significará menos dinheiro para a produção de imóveis para a classe média. Segundo ele, o setor está muito preocupado com funding que financiará a casa própria em 2025, mas o medo maior é com a alta da taxa de juros, que dificulta o acesso ao crédito.

O Presidente da CBIC disse que 2024 foi um ano “bastante positivo”. Ele informou que o mercado imobiliário cresceu 20%, comparando os terceiros trimestres de 2023 e 2024. “Nós tivemos uma redução do estoque da ordem de 10%, e isso tudo se deve, em boa parte, às mudanças no Minha Casa, Minha Vida, ocorridas em julho de 2023, que tiveram reflexos positivos em 2024, com o aumento do teto do programa, utilizando o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para R$ 350 mil e também o aumento do subsídio para R$ 55 mil. Isso colocou o Minha Casa, Minha Vida em condições de operar perante a renda da população. Há uma demanda muito forte, e o programa cresceu muito. E nós tivemos, no início de 2024, uma taxa Selic de 10,5%, o que também impulsionou a venda de apartamentos de médio e alto padrão, performando uma boa realização do setor imobiliário”, afirmou ao jornal.

Quando se fala em infraestrutura, Correio diz que 2024 foi um dos melhores anos, e que tal resultado naturalmente reflete na construção civil. “Quando a gente olha para a infraestrutura, 2024 foi um dos melhores anos. O Brasil investiu R$ 264 bilhões em infraestrutura, sendo aproximadamente R$ 64 bilhões entre os governos federal, estaduais e municipais, e cerca de R$ 200 bilhões da iniciativa privada. Estamos falando de rodovias, saneamento básico, infraestrutura de comunicação e energia. O desdobramento disso é que o setor da construção civil do país empregava quase 3 milhões de pessoas com carteira assinada em 2024. É um cenário muito positivo”, disse o executivo.

A utilização do FGTS para outros fins senão o financiamento imobiliário também foi alvo de crítica do dirigente. “O FGTS é muito importante para a habitação de interesse social no Brasil. Originalmente, ele tem pelo menos duas funções importantes: a salvaguarda do trabalhador no momento da perda do emprego ou de uma calamidade; e o financiamento da habitação de interesse social e da infraestrutura e mobilidade. Como o deficit habitacional no país é resiliente — são cerca de 7 milhões de habitações em deficit habitacional, mesmo depois de um programa exitoso como o Minha Casa, Minha Vida, que completou 15 anos —, o deficit nominal continua muito forte no Brasil. Então, qualquer desvio da fonte de financiamento para a habitação de interesse social impacta muito a sociedade brasileira. A CBIC defende que os recursos do FGTS sejam aplicados até que a gente possa vencer esse desafio do deficit habitacional. Saques ordinários são, muitas vezes, aplicados no FGTS, como, por exemplo, a antecipação ou a alienação do saque-aniversário. Isso significa que o empréstimo bancário, antecipando 10, 20, 30 anos de saque-aniversário, inviabiliza o uso desse dinheiro emprestado em habitação”, salientou.

“Quando você aplica o dinheiro em habitação, é um financiamento. O dinheiro constrói e em seguida volta para o FGTS. Quando você realiza o empréstimo bancário com os recursos do FGTS, ele não volta para o fundo e não é aplicado em habitação. Isso representa R$ 40 bilhões por ano. Representa muita habitação que deixa de ser feita para o trabalhador. Esse é um tema de muita preocupação para a CBIC”, frisou ele.

Correia defendeu a liberação do compulsório da poupança para financiar a casa própria para a classe média. “A classe média precisa de financiamento para a aquisição da casa própria, e os recursos para esse financiamento normalmente vêm das poupanças, vêm das Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), e outras ferramentas adicionais. Tanto a poupança quanto essas outras modalidades de investimento dependem muito de uma taxa Selic baixa para serem atrativas. Então, a única alternativa que a gente vê para compensar um pouco as perdas de disponibilidade de recursos seria a liberação do compulsório da poupança, algo em torno de R$ 40 bilhões, para recompor a redução causada pelo aumento da taxa de juros. Essa é uma solução já pleiteada pela CBIC junto ao Banco Central, mas até o momento não tivemos esse pleito atendido. A gente tem expectativa de que possa ser atendido em 2025”, explicou o Presidente da CBIC.

Ele também falou sobre a informalidade na construção civil, um dos gargalos do setor. “É um problema no país, não só na construção civil. Nós temos sete milhões de funcionários trabalhando na construção civil, algo em torno de três milhões com CLT e quatro milhões na informalidade. É um percentual muito alto, e a gente precisa criar novas condições de legislação para que haja a inclusão dessas pessoas na formalidade. É um debate que precisa ser feito com o Ministério do Trabalho, Ministério de Desenvolvimento Social, de forma a podermos avaliar novas ferramentas, novas legislações. Inclusive, avaliar se o próprio Bolsa Família acaba induzindo a pessoa a ter alguma atividade informal para não perder o benefício”, finalizou.

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