O jornal Valor Econômico consultou especialistas do mercado de crédito imobiliário, que disseram que as taxas devem se manter no atual patamar até o fim deste ano ou início de 2024, ainda que os juros estejam caindo.
Segundo a Coordenadora de Crédito Imobiliário da plataforma MelhorTaxa, Priscilla Basso, ouvida pelo jornal, “ apesar de o custo ter ficado estável, os bancos se tornaram mais restritivos na aprovação do financiamento num cenário de elevação do custo de ‘funding’ do setor e de restrição de recursos devido aos contínuos saques da poupança”. Priscilla pontuou que os bancos continuam com poucos recursos, inclusive a Caixa, para abastecer suas linhas de crédito imobiliário. Dados colhidos pela MelhorTaxa inclusive mostram que a taxa média das operações dos quatro principais bancos que atuam no crédito imobiliário (Caixa, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander) alcança hoje 11,02% ao ano dentro no Sistema Financeiro de Habitação (SFH), ao passo que em março, antes dos últimos reajustes, o custo médio era de 10,65%.
Para ela, os bancos têm preferido trabalhar com clientes de repasses, que compram imóveis na planta, já receberam as chaves e querem transferir o financiamento da incorporadora. “Os bancos estão dando preferência para os repasses e ficaram muito mais restritivos para o consumidor que chega sozinho para pedir o empréstimo”, disse, ela, ao Valor Econômico.
“Incorporadores mencionam que, se antes do aperto monetário, de cada 30 fichas enviadas aos bancos, 28 eram aprovadas, agora os bancos têm aceitado dez, feito mais exigências em outras dez e reprovado o restante”, afirmou o Diretor de Negócios Imobiliários da HSI, Fernando Gadelho, para quem há um cenário de maior restrição na concessão de crédito imobiliário. “Quem comprou apartamento há dois ou três anos, agora, quando chega na hora do repasse para os bancos, corre grande risco de não ter mais a renda exigida para o financiamento”, disse. Ele garante que a taxa de aprovação hoje no mercado é cerca de um terço do que já foi no período de juros baixos.
“As taxas de crédito imobiliário, por ser uma operação de longo prazo, são impactadas por curvas de juros de médio e longo prazo e não somente por movimentos de curto prazo da Selic. Mesmo com todo o movimento positivo de diversificação de fontes de funding, a evolução dos saldos de poupança é um vetor muito importante para a formação de taxas e levamos tais aspectos em consideração”, disse o Diretor de Crédito Imobiliário, Consórcios e Veículos do Itaú Unibanco, Thales Ferreira. “Na nossa avaliação, não vai ter alteração da taxa de crédito imobiliário tão rapidamente. No momento seguinte temos que acompanhar a captação da poupança e os movimentos do Banco Central”, acrescentou o Diretor de Crédito Imobiliário do Santander, Sandro Gamba, para quem a redução da Selic ainda não afeta de maneira tão imediata o custo de funding, ou seja, da captação de recursos para o setor e também enxerga as taxas das linhas estáveis nos próximos meses. “O ponto principal para o funding imobiliário que está relacionado à carteira de poupança. Não existe uma relação tão imediata entre a redução da Selic com a redução de custo do crédito imobiliário. Porque ainda vemos que existe uma saída de recursos da caderneta de poupança e isso restringe o funding”, diz.
Por sua vez, o Presidente-executivo do Sindicato da Habitação -SP (Secovi-SP), Ely Wertheim, acredita na melhora na aprovação de novas concessões de financiamentos habitacionais como efeito mais imediato da queda da Selic. Ele prevê que depois deve vir um cenário de redução de taxas nas linhas de crédito do setor. “Acho que daqui a 30 a 60 dias já vamos sentir melhora nas aprovações de financiamentos imobiliários”, aposta o executivo. Para Wertheim, logo após os bancos retomarem o apetite pelo financiamento imobiliário, as taxas começam a cair como consequência dos juros menores. “As vendas do mercado não subsidiado devem ganhar impulso ao longo dos próximos 90 a 120 dias por conta da melhora das taxas”, observa.
A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) informou que o crédito imobiliário observou uma alta de 6% no primeiro semestre do ano, em comparação com o mesmo período de 2022, somando R$ 117,8 bilhões. O financiamento com recursos da poupança, aponta a entidade, teve queda de 10%, a R$ 76,7 bilhões, enquanto com funding do FGTS teve expansão de 62%, a R$ 41,1 bilhões. Para o resultado final de 2023, a Abecip acredita que o financiamento imobiliário terá queda de 1%, com baixa de 13% no SBPE e alta de 32% no FGTS.